Todo começo de ano é a mesma
coisa, muitas promessas são feitas e quando o ano termina, fazemos um balanço
do que passou, vemos que nem todas foram cumpridas. Algumas delas, por nossa
própria culpa, negligência, preguiça, procrastinação e outras promessas são
adiadas por fatores diversos que não temos o controle.
No início de 2015 eu havia
prometido a mim mesma retomar os treinos de corrida com dedicação para que em
2016 pudesse realizar minha primeira maratona, os sonhados 42k nos meus 42
anos. Comecei o ano com empenho, tanto que após a dengue, em fevereiro, retomei
os treinos logo sem dar muita atenção a recuperação necessária, o que me deixou
ainda mais debilitada e suscetível a herpes zoster. Então, entre os meses de
abril e maio passei 33 dias no hospital por conta de bactéria que quase me
levou à óbito, fui submetida à 3 cirurgias e levei meses para me recuperar,
tendo alta médica completa somente em dezembro de 2015. As cirurgias deixaram
sequelas físicas para sempre, e limitações momentâneas de movimentos que me
impediram de retomar a musculação antes.
Retomar os treinos após o parto
foi infinitamente mais fácil do que agora, ainda mais porque uma gestação,
mesmo sendo 3 cesáreas, o corpo encara como um processo natural e o próprio
metabolismo auxilia nesta recuperação. Contudo, após chegar tão próximo da
morte, e foi próximo mesmo, meu corpo enfrentou como uma agressão imensa, tanto
que foram meses de recuperação, repouso e muita paciência.
Para quem vê de fora, as sequelas
físicas estão diminuindo e ficando boas, mas ninguém pode ver as marcas
internas. Emocionalmente tudo que aconteceu me abalou muito, é difícil admitir
isso pois passei muito tempo no hospital e depois que sai dele me questionando porque
aconteceu tudo isso comigo. A gente acha que fazer exercícios físicos nos livra
de doenças, como câncer, ou problemas como obesidade, diabetes, hipertensão,
mas não nos damos conta que o excesso de exercícios pode ser prejudicial
também.
Às vezes penso que se eu não
tivesse retomado os treinos logo após a dengue não teria ficado tão debilitada
e sucessível a herpes sortes e depois a bactéria comedora de carne. No entanto
se fosse sedentária talvez não tivesse conseguido me recuperar tão bem como
foi, tanto que o enxerto de pele aderiu 100% e hoje consegui recuperar os
movimentos do braço. Se isso..., se aquilo... tantas possibilidades ainda
passam pela minha mente frequentemente.

Achei que escondendo dos outros,
e de mim mesma, usando somente camisa de manga comprida e saias longas eu
esqueceria e seria mais fácil encarar. Tanto que dei todas minhas camisetas
regatas, mas isso não adiantou. Foi então que conheci uma aluna, a jovem
brilhante e corajosa Jessica Saeko das aulas de pedagogia, que me encorajou a
assumir as marcas. Jessica contou como ela enfrentou as marcas que possui, o
olhar das pessoas e me mostrou que aceitar é o primeiro passo para recuperar o
amor próprio. Então me conscientizei que tudo que passei não é para ser
esquecido, mas para ser lembrado e que sirva de exemplo para outras pessoas.
Porém, mesmo passado por tudo
isso, ainda não me sentia confiante para voltar a correr, foi então que
conversando com uma amiga ela me fez ver que se eu já havia superado tantas
adversidades e 3 partos, então posso ter mais essa conquista e recomeçar. Só
quem encara a morte frente à frente e consegue voltar sabe dizer que as vezes
se consegue tirar forças sabe-se lá de onde. Então se Deus me mandou de volta,
pois cheguei na porta do céu e voltei, é porque tenho uma missão a cumprir. Já
que é assim, vamos para mais um desafio, é hora de voltar às pistas e ser
feliz.
Borá lá?!
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