1 de jan. de 2016

Correr, um eterno recomeço

Todo começo de ano é a mesma coisa, muitas promessas são feitas e quando o ano termina, fazemos um balanço do que passou, vemos que nem todas foram cumpridas. Algumas delas, por nossa própria culpa, negligência, preguiça, procrastinação e outras promessas são adiadas por fatores diversos que não temos o controle.

No início de 2015 eu havia prometido a mim mesma retomar os treinos de corrida com dedicação para que em 2016 pudesse realizar minha primeira maratona, os sonhados 42k nos meus 42 anos. Comecei o ano com empenho, tanto que após a dengue, em fevereiro, retomei os treinos logo sem dar muita atenção a recuperação necessária, o que me deixou ainda mais debilitada e suscetível a herpes zoster. Então, entre os meses de abril e maio passei 33 dias no hospital por conta de bactéria que quase me levou à óbito, fui submetida à 3 cirurgias e levei meses para me recuperar, tendo alta médica completa somente em dezembro de 2015. As cirurgias deixaram sequelas físicas para sempre, e limitações momentâneas de movimentos que me impediram de retomar a musculação antes.






Retomar os treinos após o parto foi infinitamente mais fácil do que agora, ainda mais porque uma gestação, mesmo sendo 3 cesáreas, o corpo encara como um processo natural e o próprio metabolismo auxilia nesta recuperação. Contudo, após chegar tão próximo da morte, e foi próximo mesmo, meu corpo enfrentou como uma agressão imensa, tanto que foram meses de recuperação, repouso e muita paciência.


Para quem vê de fora, as sequelas físicas estão diminuindo e ficando boas, mas ninguém pode ver as marcas internas. Emocionalmente tudo que aconteceu me abalou muito, é difícil admitir isso pois passei muito tempo no hospital e depois que sai dele me questionando porque aconteceu tudo isso comigo. A gente acha que fazer exercícios físicos nos livra de doenças, como câncer, ou problemas como obesidade, diabetes, hipertensão, mas não nos damos conta que o excesso de exercícios pode ser prejudicial também.

Às vezes penso que se eu não tivesse retomado os treinos logo após a dengue não teria ficado tão debilitada e sucessível a herpes sortes e depois a bactéria comedora de carne. No entanto se fosse sedentária talvez não tivesse conseguido me recuperar tão bem como foi, tanto que o enxerto de pele aderiu 100% e hoje consegui recuperar os movimentos do braço. Se isso..., se aquilo... tantas possibilidades ainda passam pela minha mente frequentemente.

Então que em meio a tantos questionamentos tenho que, afinal, agradecer por nunca ter deixado de treinar, mas ainda preciso recuperar a motivação para voltar a treinar com o mesmo afinco sem carregar os monstros que levo comigo. Sim, monstros, pois mesmo sabendo que os treinos me salvaram, eles também não me livraram de ter passado por tanta dor. É impossível não lembrar de tudo e não chorar por dor, por alívio e principalmente por gratidão. Claro que agradeço a Deus por ter me livrado da morte ou por não ter sido necessário amputar o braço. Sei que está na hora de superar essa história, deixá-la no passado e retomar o controle sobre minha vida em busca da pessoa que sou. Mas juro que estou tentando superar e não lembrar com tanta frequência, porém, quando olho para meu braço e vejo a marca que foi deixada, fica impossível esquecer.

Achei que escondendo dos outros, e de mim mesma, usando somente camisa de manga comprida e saias longas eu esqueceria e seria mais fácil encarar. Tanto que dei todas minhas camisetas regatas, mas isso não adiantou. Foi então que conheci uma aluna, a jovem brilhante e corajosa Jessica Saeko das aulas de pedagogia, que me encorajou a assumir as marcas. Jessica contou como ela enfrentou as marcas que possui, o olhar das pessoas e me mostrou que aceitar é o primeiro passo para recuperar o amor próprio. Então me conscientizei que tudo que passei não é para ser esquecido, mas para ser lembrado e que sirva de exemplo para outras pessoas.

Porém, mesmo passado por tudo isso, ainda não me sentia confiante para voltar a correr, foi então que conversando com uma amiga ela me fez ver que se eu já havia superado tantas adversidades e 3 partos, então posso ter mais essa conquista e recomeçar. Só quem encara a morte frente à frente e consegue voltar sabe dizer que as vezes se consegue tirar forças sabe-se lá de onde. Então se Deus me mandou de volta, pois cheguei na porta do céu e voltei, é porque tenho uma missão a cumprir. Já que é assim, vamos para mais um desafio, é hora de voltar às pistas e ser feliz.


Borá lá?!